Quando estávamos em Aracaju , almoçando no ultimo dia antes de nossa partida de volta, um senhor veio até nossa mesa e entregou para meus pais um papel e disse que gostaria que eles lessem o que estava escrito ali.
Onde estava escrito o seguinte texto:
Pedro...Pedrinho...Tio Pedro. Eu o conheci há muito tempo. Ele tinha seus dez anos. Dava muito trabalho.Era preciso muita paciência. Seus olhinhos negros tinham brilho. Viam tudo e por todos se interessava. Rosto redondo, lábios superiores estreitos e os inferiores polpudos, sempre úmidos. Sua língua, não a controlava. Se não estava falando, ficava exposta. Queria falar,falar,mas não conseguia articular bem as palavras. O semblante, marcado pelas pálpebras de oriental. Pedro era excepcional. Um espirito inteligente aprisionado num corpo limitante. Um coração maravilhoso. Sempre carinhoso, sempre pronto a abraçar e beijar a todos que o permitissem, balbuciando: "Meu amigo, meu amigo, amigão do peito...". Foi criado com amor, ao ponto de sua irmã mais velha sacrificar seus sonhos de mulher. Recusava-se casar para não abandonar o Pedro. Mas Deus a tudo prevê. Já madura, surge-lhe um irresistível Príncipe Encantado, e a pede em casamento.
-E o Pedro? Como quem vai ficar? Não posso!
- Ele vem junto. Eu cuido dos dois. A alegria encheu o coração da moça. "Este é um homem maravilhoso", pensou.
Casaram-se. Tivera mais dois filhos. A luta foi grande, mas o amor venceu todas as dificuldades.
A maior era o Pedro.
Passaram-se os anos. O mundo deu muitas voltas e muitas voltas. Fui visitá-los um dia desses. Que surpresa, meu Deus! Encontro meu amigo preso a uma cadeira de rodas, feliz na sua prova, sem as duas pernas. Ao seu lado um "adolescente" de uns quarenta anos. Era o Pedro... Amoroso, dedicadíssimo, buscando uma coisa ali, uma coisa acolá, os remédios e até a bandeja com comida. Um enfermeiro não faria melhor. Ele cuida do "Príncipe Encantado" que o adotou.
Vendo uma lágrima sorrateira em meus olhos , meu amigo arrematou:
- O "Tio Pedro" vale pelas minhas pernas. É meu companheirão.
( Um a homenagem a todos os bons pais de excepcionais)
Luiz de Castro - Londrina-
Muito obrigado, Sr. Luiz , pelo belíssimo texto.
Foi um prazer em conhece-lo.
Patricia, Davi e Gustavo.
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